A Inteligência Emocional (IE) é uma teoria que pode trazer benefícios quanti-qualitativos para a vida cotidiana dos profissionais da área da saúde. Dentro do campo da IE, há uma ferramenta utilizada para combater o estresse e recuperar a serenidade que é a Atenção Plena (AP).
A AP se estrutura a partir do conceito da meditação, que ocorre há milênios nos países do Oriente (China, Japão, Índia, entre outros).
A AP também tem sido chamada de mindfulness e requer uma prática, que ao ser expressa em palavras, parece simples, mas que na prática nos mostra a necessidade de haver engajamento para que seus benefícios sejam devidamente sentidos.
Essa prática tem sido adotada como tratamento pelo Instituto Nacional de Excelência Clínica do Reino Unido.
Benefícios da Atenção Plena:
- A prática da AP afeta positivamente s padrões cerebrais responsáveis pela ansiedade e pelo estresse.
- Meditadores regulares têm relacionamentos mais estáveis e se sentem mais felizes do que a média das pessoas.
- A técnica demonstrou ser potente no combate a depressão e se provou tão evidente quanto os medicamentos.
- Há fortalecimento do sistema imune.
- Desenvolvimento da serenidade ao desarmar os gatilhos de reações imediatas.
Atenção Plena no dia a dia da saúde
Você profissional da área da saúde já deve ter vivido emoções intensas no trabalho.
Todos nós sentimos o impacto das urgências e do dia a dia da área da saúde, que nos coloca frente a frente com a dor do outro, do sofrimento, da perda.
Contextualização
O cenário acima, associado a:
Avanços tecnológicos no campo:
- Da propedêutica
- Da evolução dos tratamentos medicamentosos
- De cuidados
Culminando com o impacto gerado pela pandemia de COVID-19, fez a área da saúde se debruçar sobre a necessidade da profissionalização da gestão.
Há bem pouco tempo atrás, não mais do que 30 anos, começávamos a jornada de buscar a melhoria contínua e qualificação nos processos assistenciais e gerenciais.
Hoje tornou-se imperativo essa evolução.
Isso trouxe impacto no dia a dia do trabalho.
Reprimir e Ruminar
1. Você já reprimiu seus sentimentos? Algo ou alguma situação difícil tomou conta de você e sua atitude foi a de seguir em frente. Não há espaço para efetivamente sentir e refletir sobre o que aquele momento significou para você. É como se você tivesse limpado sua mente com uma vassoura, mas ao invés de lidar com a sujeira, apenas a arrastou para debaixo de um tapete.
2. Você já ruminou alguma situação? Alguém fez algo que você não gostou. E você retorna para aquele momento/pensamento milhares de vezes e a cada vez que o revisita você tem uma atitude, um pensamento ou um sentimento que dá lugar à reação teoricamente desejada por você. Esse comportamento é muitas vezes justificado por “um desabafo”. O problema é quando esse desabafo se torna repetido – e o assunto é falado por diversas vezes, mas nunca de fato trabalhado e superado.
Quem Nunca Reprimiu ou Ruminou na Vida, Levante a Mão!
O quanto isso (reprimir e ruminar) contribui para nossas vidas pessoais e profissionais? NADA.
É um perigo reprimir e ruminar uma emoção, mas isso acontece inúmeras vezes em nossas vidas. Aqui queremos incentivar nosso leitor a olhar com maior generosidade, curiosidade, afeto para nos conhecermos melhor, com ações mais ajustadas ao nosso modo de ser e de querer ser, que nos distanciem de dores desnecessárias e que respeitemos mais aqueles que estão próximos a nós e que amamos.
Você reconhece esses cenários?
Cenário 1. Você está na assistência/atendimento direto a vários pacientes complexos em uma unidade de internação de seu hospital. É importante manter uma comunicação adequada e cordial com os familiares e acompanhantes. Seu colega da unidade o informa que o Centro Cirúrgico (CC) o chama ao telefone e você interrompe seu atendimento ao paciente. É urgente! No outro lado da linha, o CC o chama para uma situação X. Você dispensa rapidamente o paciente. Ao seguir para o CC é interrompido por um colega para discutir o caso do paciente W de outra unidade. Vocês descem as escadas juntos e seu colega segue relatando a situação do paciente W. Você entra no CC!
Cenário 2. Você está realizando um curativo extenso em um paciente e orientando o familiar sobre como realizar os cuidados no domicílio. Sua liderança entra nesse espaço e se dirige a você quanto a sua falta de assinatura no cartão ponto. Ela sai do local sem mais informações. Um colega entra nesse espaço e começa a informar-lhe que a área de nutrição ligou e informou que não poderá atender à solicitação da dieta do paciente Y. O responsável pela área administrativa da unidade, também entra nesse espaço e informa que faltará água quente durante um período. Imediatamente, outro profissional entra correndo e diz que tem uma parada cardiorrespiratória com o paciente Z. Você pede para outro profissional finalizar o curativo. Você sai rapidamente desse espaço e vai atender o paciente Z!
Cenário 3. Você está finalizando uma solicitação de soros e eletrólitos em um sistema eletrônico que tem um período para expirar e você está dentro do prazo limite. Sua liderança entra na sala e solicita para você atender a um fornecedor, pois ela está indo para uma reunião urgente com a Diretoria Executiva da Instituição. Você tenta explicar sobre o seu prazo, mas a liderança já saiu da sala. Você vai até o local onde está o fornecedor, que o aguarda com o semblante fechado. Quando você o cumprimenta, com um “Bom dia”, ele responde “Só se for para você”. Você pergunta qual o problema e ele começa a desenrolar uma série de eventos dos quais você nunca havia tomado conhecimento. Um colega interrompe o fornecedor para informa-lo que o carro dele estava com os vidros abertos e que começa a chover. O fornecedor sai correndo. Você volta para dar continuidade à solicitação, mas o sistema havia fechado e você sabia que precisaria reiniciar!
Ufa! Como você se sentiu ao ler esses casos?
Quais são os sentimentos que permearam sua leitura? Responda para você mesmo em uma folha de papel. Materialize seus sentimentos na escrita. Nós ficamos exaustos somente de lembrarmos dessas situações em nossas unidades de saúde.
Você conseguiu viver cada momento ou foi “atropelado” pelos acontecimentos?
Atenção Plena é sobre viver esse momento. Esse momento é ÚNICO.
Manter a Atenção Plena e o Foco
A sociedade contemporânea enfrenta a ansiedade, o estresse, a exaustão e até mesmo a depressão com sérios riscos para as pessoas que vivem tais situações, como para aqueles que pertencem ao círculo de convivência, sendo difícil manter AP e o Foco nas ações que estão sendo desenvolvidas.
Particularmente, nós profissionais da área da saúde, precisamos estar atentos a nós mesmos e aos nossos pares. Os cenários apontam para isso. Situações fictícias para fatos reais.
Ou seja, é fundamental buscarmos compreender melhor nossa própria natureza humana e desenvolvermos ações que possam nos trazer conforto, alegria, paz, contentamento, felicidade.
Atenção plena não é como apertar um botão
Os autores do livro “Atenção Plena” nos encorajam a romper com hábitos de pensamentos e comportamentos, com ações simples, por exemplo: mudar o caminho que você faz para o trabalho. Perceba que o que somos estimulados é assumirmos fazer pequenas escolhas no dia a dia e associarmos uma prática de meditação orientada, que tem uma base científica e acadêmica de seus benefícios, ao mostrar estudos em que os meditadores regulares são mais felizes e mais satisfeitos do que a média das pessoas.
Sugestão de Prática:
- Se faz necessário praticar para alcançar os benefícios já registrados em literatura do assunto. Assim, é proposto oito semanas de prática:
- Inicie com a observação de sua respiração. A respiração está a sua disposição durante todo o dia. Isso o fará acordar do “piloto automático”.
- Desloque sua mente pelo seu corpo de forma consciente, parte a parte do corpo. Isso reintegrará corpo e mente.
- Faça alongamentos sem esforços, mas mantenha-se atento a cada movimento.
- Realize a leitura dos sons e pensamentos que estão a sua volta. Vá além dos rumores. Aos poucos perceberá que o silêncio tem sons.
- “Visite” uma dificuldade ou situação de estresse e desconforto. Respire. Você pode encontrar ou não algo para sentir.
- Permita-se ser generoso consigo mesmo. Sem julgamento. A gentileza consigo mesmo, irá gerar a própria empatia interna.
- Você já dançou hoje? Se não, que tal sair do funil que o absorve e o leva à exaustão. Já fez algo hoje que você gosta muito? Caso não tenha feito, se dê o direito a isso.
- Você consegue sentir a paz interior, mesmo estando nesse mundo frenético? Essa é a proposta. E isso começa por você começar a ter atenção em sua RESPIRAÇÃO.
Orientações para o Dia a Dia
A prática da técnica de AP poderá contribuir para alcançarmos os benefícios apontados no início desse texto.
Como profissionais da saúde como você queremos que se sinta confortável. Mas…
Se você sentir ou perceber que é necessário buscar ajuda profissional (psiquiatra, psicólogo, psicoterapeuta, entre outros) – NÃO HESITE.
Dicas para o leitor:
“O que é esse tal de Lean Healthcare”. Alice Sarantopoulos, Gabriela Spagnol, Li Li Min, Ronaldo Calado. 2ª Edição. 2018.
Convite ao leitor, saiba mais sobre Lean na saúde:
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